terça-feira, 6 de julho de 2010














"Ele me mandou flores hoje." contava à sua amiga como se fosse algo banal, como se receber flores fizesse parte de suas manhãs. Pelo menos era o que expressava enquanto tomava o café, e sua amiga, impaciente e curiosa, a observava, esperando mais detalhes, mais flores. Mas a conversa não progrediu, parou por ali e ambas se levantaram e saíram da cafeteria.
Fiquei ainda lá um bom tempo e as vi cruzando a rua. Enquanto a garota que parecia solteira falava, a outra fazia gestos como se já soubesse de tudo, mostrando-se sábia, pelo menos simulava essa idéia. Senti muita preguiça e voltei os olhos ao meu café.
Nada mais escuro que o meu café, menos sólido, que trêmulamente refletia meu nariz e olhos de uma maneira a tornar-me indescritível.
Se não fossem pelas flores, talvez não teria dado tamanha atenção ao diálogo, pois justamente estas que me atraem com tal beleza e fascínio. E direciono-me às orquídeas e aos olhos da maçã que se consome no fogo de sua pele, e exibe o vermelho, entre o amarelo da banana, de dentro da vasilha bem em cima da mesa. Iluminando a sala e a cozinha, acompanhada pela leveza do sol de fim de tarde que se esvai junto ao dia, a maçã consome-se sozinha e perde o seu brilho quando grita a noite.




























[junio ferreira]

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