domingo, 21 de março de 2010











Acordei bem cedo e decidi que iria viver.
O fato da minha escolha, nao sei. Acaso? Não sei.
É possivel viver. Achar que esta vivo, contudo, é possivel. A morte esteve pela manhã na minha janela, sorriu seus dentes de uma noite não tão bem dormida. Ameaçou algumas pessoas, outras ela entristeceu cegamente. Sua exata existência é um contraste. Um vinil, dois lados conhecidos que não se interpenetram. É preciso morrer para que exista, ou mesmo percebamos, algo que denominamos vida.














[junior ferreira]

terça-feira, 16 de março de 2010





As Coisas


A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a ofendida
Violeta, monumento de uma tarde,
De certo inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão muito além de nosso olvido:
E nunca saberão que havemos ido.







[Jorge Luis Borges]































"esta tarde, enquanto caminhava, mais barulhos se misturaram aos meus ouvidos. Esses barulhos condensaram-se a outras sinfonias arquitetadas por não sei quem. Tudo tornou-se tão prolixo que nem mesmo percebo meu corpo"(junior ferreira)

domingo, 14 de março de 2010

barulhos












Todo poema é feito de ar
apenas
a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere
o metal
a pedra
não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa
de mulher.

O poema
é sem matéria palpável
tudo
o que há nele
é barulho
quando rumoreja
ao sopro da leitura.









[ferreira gullar]










"Não consigo definir o que é arte, mas quando leio ferreira gullar eu sei que é poesia, quando ouço philip glass sei que é música." (junior ferreira)