quinta-feira, 24 de novembro de 2016

[...]












Se o dia acabar triste, tente envelhecer mais.

Se a terra tremer, faça como o de costume.
Vá para a rede, leve um chá - ou uma água, música, violão -  e finja que o dia
é tao banal quanto a força que nos impulsiona,
aquela mesma que exala da pele
e nos motiva a continuar caminhando
cada vez mais,
sem nunca parar.












[junior ferreira]

segunda-feira, 11 de julho de 2016

[...]


















E se não conseguir mensurar
o infinito ou
atravessar todas as propostas e
hipóteses de universos
múltiplos,
vou criar em um só compasso
a máquina de inventar mundos.
Construir bilhões
de planetas, entre tornados
e gigantes gasosos,
incontáveis galáxias
e fronteiras infindáveis.

Meu mundo será inteligível,
palpável e perceptível ao olho nu.
Será meu único e maior problema.
















[junior ferreira]

segunda-feira, 20 de junho de 2016

[...]














A minha casa agora tem cheiro de gatos.
Resolvi, as quatro da madrugada, pegar as minhas
tintas e pintar a parede da sala
de vermelho,
a parede da cozinha de relógio,
e a varanda de bolo de cenoura.
Quero os cômodos
da minha infância e
o cheiro de café
que minha mãe fazia sempre
as oito da manhã.
Ah! esqueci de dizer sobre as cores do quarto...
neste cômodo vou jogar qualquer coisa,
só serve para dormir,
acordar e sentir o sol
arrebentar as cortinas
e tingir de amarelo
os meus dentes
em minhas manhãs
que se tornaram
mais velozes que a própria luz.
















[junior ferreira]

sábado, 18 de junho de 2016

[...]












Se esquecer fosse fácil
seriamos menos voláteis,
dispersos,
opostos,
teríamos um processador de dados no
lugar de um coração.
Seriamos, na verdade,
extremamente sortudos
por conseguir
dilacerar aquilo que
tanto causa
a tormenta do dia,
memória.
















[junior ferreira]

quinta-feira, 2 de junho de 2016

[...]














Só não se perdeu na metade, porque a metade não existe.
Só não viu o outro lado do Universo devido a assimetria.
E se ele não tem lados correspondentes, eu também não tenho,
você também não, ninguém tem.
A recíproca foi algo que se consumiu, desapareceu,
e o amor, ah o amor (quanta imaturidade falar sobre o amor)... Quantas vezes amamos sozinhos,
acreditamos sozinhos
e choramos por uma resposta que refletiria
tudo na mesma metade?

Bilhões e trilhões de vezes, eu respondo.
Se o amor fosse simétrico, não cairíamos
na efemeridade
de um buraco solitário
e escuro que
se acaba
na
singularidade
perplexa da não existência
de sua própria e verdadeira
dualidade.
















[junior ferreira]

sexta-feira, 13 de maio de 2016

[...]












Surgimos de um certo improviso debochado,
pressuroso,
volúpia,
efêmero.

Se for contar todos os detalhes
daquela noite em que sentamos na beira do lago,
e você disse que iria embora, demoraríamos a  mesma eternidade
em que a cópula nos trouxe.
Melhor deixar esses detalhes de lado
e ser mais simples, dizer que vai fazer falta,
que vai ser diferente,
que todas as coisas mudarão, inclusive aquilo
que denominamos de esperança.













[junior ferreira]

terça-feira, 26 de abril de 2016

[...]











Disseram que o amor estava em seus olhos
quando o fitei.
Contudo, não existiu nada além do vácuo.
Foi assim que descobri que eu não era o que esperava,
era menos, muito menos.
Repensei sobre o que, na verdade,
eu deveria ser
ou
devo ser.

Venho refletindo por semanas,
aflito e desconexo.
Quero filtrar seus sorrisos
e enxergar aquilo que não conseguirei ver
em mim mesmo.














[junior ferreira]














segunda-feira, 18 de abril de 2016

[...]














Quero dizer o quão ridículo você é,
isso chega a me assustar, na verdade.
Poderia usar duas ou três palavras,
ou até mesmo uma única, ridículo.

Vive dizendo por aí que sou sentimental,
que dou carinho demais,
e que me entrego além do normal (se é que existe algo normal). Contundo,
nunca deixou de ser ridículo.

Embora tenha ido cedo demais,
causou danos a quem lançou olhares. Causou estragos na cidade,
a estranhos, a tudo que tocou. Te vejo
numa metade cruel,
mas te quero na outra metade,
naquela parte onde o coração rasga, e tudo caçoa da minha existência.

Toda a esperança de não se acabar
na singularidade
do buraco, se rompe em barulhos
na parede vermelha
de mais uma tarde
veloz.













[junior ferreira]



quarta-feira, 23 de março de 2016

[...]












E dizer por aí que nossa ilusão esta a morrer, meu caro, pode ser verdade

Lá fora a Terra treme, a cidade gira, as crianças nascem com três olhos,
a luz ainda está em cima de nossas cabeças, penso eu.
Provavelmente, enquanto escrevo minhas ideias,
no outro lado do mundo ou ali mesmo na esquina da rua,
alguém está acordando, indo dormir, dando gritos de terror,
tendo orgasmos múltiplos, sorrisos de engasgar.
As luzes podem mudar de direção, os cabelos de tamanho e cor,
mas é impossível viver nesse mundão de Deus e dizer que tudo
não está esquisito. Tudo anda muito esquisito.
A cara do mundo se tornou essa coisa assimétrica
que ronca nas noites e beira o dia com um olho gigante de fogo.
O mundo tem girado de uma forma esquisita realmente, como se toda manha acordássemos dentro da garganta do furacão e todas as noites pegos de surpresa pela mandíbula do tornado avassalador

O mundo, meu caro, anda muito estranho.
















[Junior Ferreira]


segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

[....]












Se afastaram de mim
porque eu tinha gosto de pedra.
Não era indiferente, mas também não gostava.
Tentei ser metade daquilo que sonhei,
e não foi suficiente.
Quando me aproximei e fingi gostar,
me vi amando,
abraçando outro corpo e gostando mais
de outro, do que de mim mesmo.
Nas noites frias, fui o vendaval que gritava lá fora.
Fui aquela coisa que saía correndo pela rua,
machucado, dizendo que o mundo
estava prestes a acabar.
Acreditei veemente que a lua
cairia na terra
e que de todos os olhares,
o seu era a única certeza
que cobriria
o meu desespero.


















[junior ferreira]








quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

[...]













Caí do quinto andar, e me tornei pó.
Quando sopra o vento,
sou poeira;
quando caio no mar, sou oceano.

Sou metade, agora, daquilo de quando fui outro.
Nem poeira, nem oceano,
apenas
uma borboleta transparente,
singular,
simbolo do caos e de tudo
que norteia a minha
existência












[junior ferreira]