quinta-feira, 21 de novembro de 2013

[...]












Como ele era belo, nem fazia questão de arrumar os cabelos ou pentear a barba, era por si uma coisa muito linda. A sua testa reluzia as cinco da tarde, olhando pra fora da janela, no quintal, enquanto eu terminava o meu chá na efêmera visita do sol. Sua bota espalhava o cheiro do trabalho e do cansaço do dia - o qual parecia infinito. Minha boca pedia a boca dele. Meus olhos se enchiam em prazer ao vê-lo. Não fazia esforço para ser gentil ou educado. Sinto falta de como ele preparava o meu café e o assoprava antes de me entregar para não queimar os meus lábios. Esta tudo conectado, hoje, num descompasso. Estamos em dimensões diferentes. Ele tem uma nova vida, família, filhos. Tenho o meu cachorro, minha escola de pintura. Éramos singulares, e hoje sou ainda mais singular. Deitar na cama, despida, e esperar pelo corpo dele tocar o meu, com toda a sinceridade e amor, já não é mais rotina. É lembrança. Crônica. Poesia do Saramago. Tudo menos a verdadeira carne que grudava e deixava aquele suor em minha pele. Viveria em paz se não fosse esse abandono as avessas; essa ilusão sem nexo e sem fim. Teria sossego se não fosse pela minha memória.















[junior ferreira]

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

[...]



















Não me venha falar de amor, não traga barulhos ao meu sossego. Deixe de lado o que te inquieta, viva além das paredes, navegue menos em sua imensidão imaginária

O que existe entre duas pessoas, são quatro braços
duas bocas
dois membros
em apenas um barco

O amor entre dois é desigual
igual a um
efêmero

Singular















[junior ferreira]


domingo, 17 de novembro de 2013

[...]














Foi como acordar com os barulhos
e achar que o mundo havia acabado.

Foi como acabar com os barulhos
e achar que o mundo havia acordado.













[junior ferreira]

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

[...]












"Eu comprei um cavalo" ele disse
"Com a ajuda do Senhor eu comprei meu cavalo, marrom." ele disse novamente

E por onde eu caminhava por aquela estrada de terra
pontos de luz surgiam
janelas de madeira
casas de barro e bambu

Ouvi gritos e sussurros vindos dos fundos de uma casa
por um momento achei que se tratava de uma comemoração
Era uma missa
de sétimo dia, na verdade

No escuro
no meio da poeira
um medo me tomara

Imaginei sendo pego por completo por uma aparição
no meio da estrada
por uma luz divina
Mensagem

Epifania













[junior ferreira]

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

[...]









O que tiver em mãos
ou alma

mantenha contigo
e venha fazer
barulhos












[junior ferreira]

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

[...]



















Há um momento singular
o qual sobrepuja toda a razão
e te acolhe - naquela cadeira vazia

Por um breve momento
acha que foram anos-luz
que perdera
refletindo se o que havia falado faz sentido
ou se era mesmo a sua arrogância ponderando


















[junior ferreira]

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

[...]











Tento imaginar um jeito
de lidar com os escombros

Traço linhas sobre o perfil de quem tanto me surpreende
A falta de tempo me surpreende
A sua intolerancia ao esquecimento
e ao afeto - ja não existente - não me extasiam mais

Tenho que o medo
é como a onda
que por sua vez me alcança em intensa ou baixa energia

As ondas vêm com o humor
guardadas em caixinhas
Algumas delas ainda estão embaixo da minha cama
esperando serem abertas
outras já não quero abrir

Ignoro a sua existência
Contudo, se ignoro, me torno ainda mais controverso
por escrever algum fato que venha de sua vida
ou nossa
ou nada
















[junior ferreira]




quarta-feira, 18 de setembro de 2013

[...]


















Minha felicidade vem crescendo
desde o final de Agosto
Juntando subsequentes historias
a cada xícara de cafe

Estou colecionando amigos desde o inicio de Setembro
colecionando flores
antes do inicio da primavera
revelando, para mim mesmo, o que tem de mais natural
nesse planeta















[junior ferreira]

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

[...]


















Gato doido
pula a janela
e ironicamente encosta seu rabo em minhas pernas

Gato manso
quer carinho, quer lamber os meus dedos
sugar toda minha energia
e sair pela porta de trás da cozinha
por onde eu escondi as ratoeiras
onde começa uma gigante sombra
que corre por toda a varanda
enfeitada  pelos galhos da
da imensa árvore
que se tornam a segunda casa
do Gato afoito
















[junior ferreira]

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

[...]












Vai virar pedra, Eu sei
aquele anjo que me trazia pão de queijo pela manha,
que jurava flores na madrugada
e ardia em paixão ao me ver

Vai virar poeira, a beleza que cresceu numa desilusão
e voltar em chamas
junto aquela tarde quente do ultimo verão

Vai virar pedra, o coração que um dia
foi carne
vermelho
margarida















[junior ferreira]

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

[...]



















Olhou-me pelos ombros
como quem me conhecesse
Sorria por dentro
como se eu fosse seu filho
neto
ou alguém bem próximo

Havia saudade nos seus olhos
como se tivesse algo para me contar
compartilhar, talvez

De longe, acenou a cabeça - educadamente, claro, por me fitar por alguns minutos
E entrou no ônibus
com aquela feição materna
feita o relâmpago
que grita a memoria
deixando-me saudoso
ao lembrar da minha Mãe
Pai e irma.


















[junior ferreira]

terça-feira, 13 de agosto de 2013

[...]















Veio sem barulhos,
com sua barba ainda não feita
Passou por mim
feito uma memoria perdida
e me trouxe aquele cheiro
que se esconde atras do pescoço
perto do ouvido direito
o qual desce pela nuca
e desemboca no ombro

Quando virou as costas
deixou-me flores
ao invés da saudade
















[junior ferreira]

quarta-feira, 31 de julho de 2013

[...]





















Por mais suja
ou aspera
fosse a pintura do seu carro
queria suavizar as minhas mãos por através da sua lata velha
imaginando tocar suas pernas, pescoço, barba - tudo aquilo que me aquecia -
sentir cada espaço ou mesmo o cheiro de estrada que carrega em sua dimensão
e assimilar ao seu corpo - toda essa saudade -
o qual não marca mais o lado esquerdo do meu colchão
















[junior ferreira]

sábado, 27 de julho de 2013

[...]














E você vem de longe
troca os seus segredos comigo
os seus dias - que por mais que os ache chatos, penso que são melhores que os meus

Me manda flores em forma de musica
e se eu não agradecesse - sem querer falar o quão bela é sua voz - não seria eu

















[junior ferreira]

sexta-feira, 19 de julho de 2013

[...]





















Achava impossível, enxergar o silêncio
até conhecê-lo
entrar em seu carro velho
ouvir suas músicas
dormir em seu colo
e dizer um simples Adeus num final de domingo

Inalcançável, eu pensava
até lhe introduzir Edward Hopper
observar sua cara de espanto
e perceber que traduzira - em seus olhos - o mesmo silêncio
captado nas telas pelo artista

















[junior ferreira]

quarta-feira, 17 de julho de 2013

[...]


















E quando acordo - em certos dias - sinto aquela ausência
que vem junto ao gosto do bolo de laranja
aos barulhos que entravam pela janela do meu quarto
ao cheiro de cafe preparado pela minha Mãe
a brisa que sentia na casa de campo
o cheiro do pão de queijo me esperando
na mesa da varanda

Sinto nesses momentos
a presença de uma ausência
que me enche o peito
e me tira o sono
me trazendo aquela saudade
de coisas que não existem mais.















[junior ferreira]

domingo, 30 de junho de 2013

[...]












Essa dor da espera
do descaso
de tudo aquilo que me cerca e me tira o sono
nunca cessa

Nao quero parar por aqui
nao sem sentido
quero ir além
fazer com que o dia viaje os instantes somados em mais de 24 horas

E se apodrecer nesse momento
que seja em sua alma
de maos dadas
em seu poema

Nas páginas do seu corpo





















[junior ferreira]

quinta-feira, 30 de maio de 2013

[...]
























Pode ser durante o dia,
o nosso casamento.

Ou num passeio de barco
pela orla,
pela estrada,
na escada,
no meio do nada,
em algum lugar,
No qual haja um começo de dia
vermelho
e efêmero,
como os seus lábios.























[junior ferreira]

segunda-feira, 27 de maio de 2013

[...]




















Por favor, deixe a porta aberta
A porta da sala, pode deixar aberta

Vai embora
e volte
naquele mesmo desalinho que desenha suas pernas

Mesmo indo tao longe
em chamas ou em lágrimas
Vê se volta















[junior ferreira]

quarta-feira, 22 de maio de 2013

[...]

















Foi lá, naquela rua perto do pátio da escola
na qual levamos o primeiro chingo
o primeiro "saímos correndo"
desesperados
rindo de coisas que não tinham sentido
achando que haviam pessoas nos seguindo para nos denunciar aos nossos pais
quando não tínhamos feito nada

O que queríamos, na verdade, eram aqueles pêssegos
mas estavam por detrás do muro de arame farpado
gritamos para a dona da casa aparecer
perguntamos sobre as frutas - que nos chamaram tanta atenção
O que ganhamos em troca foi uma resposta bem sucinta - não bem uma resposta, mas outra pergunta

"O quintal da sua casa é de concreto?"

E com aquela pergunta, por um breve momento, nossa alegria se esvaiu
Nao tínhamos resposta para algo tão óbvio
cruel
e verdadeiro

Alguém, lá no fundo, entre a nossa turma, gritou algo inusitado
Uma não esperada resposta, e o que de fato não pode ser dito como uma resposta
mas sim, apenas um grito em resposta a pergunta da Dona da casa
"VELHA" foi o que ouvimos alguém gritar
Quando me dei conta, era o ultimo a começar a correr
Fomos correndo desesperadamente para nossas casas
rindo sem parar
éramos cinco
éramos crianças
descalços e sem medo

Hoje
somos apenas nós mesmos
distantes em sonho e em vida

Somos apenas um


















[junior ferreira]

domingo, 19 de maio de 2013

[...]


















Estou com sintomas que apavoram uma metade do meu corpo
a outra metade eu não consigo explicar

Como se minha pele evaporasse
e toda a leveza do meu corpo
sumisse

uma metade se traduz em medo
quando a outra metade quer existir















[junior ferreira]

terça-feira, 14 de maio de 2013

[...]
















Ei, você viu?
Pegaram o cachorro da vizinha,
colocaram um cravo para crescer dentro do nariz,
plantaram uma árvore de ponta cabeça,
acharam uma cachoreira de vidro, você viu?

Não, não viu.
Estava ocupado demais
dormindo,
cantando,
passeando por aí em sua própria imaginação
na qual o mundo
assume a ideia de que o amor é uma efemeridade do dia



















[junior ferreira]

segunda-feira, 13 de maio de 2013

[...]




















Vai ver é só saudade
Não venha, se não for para fazer sentido























[junior ferreira]

segunda-feira, 22 de abril de 2013


[...]
















É você, gatinho
Aquele tipo de herói com quem eu sempre sonho
Que atravessa a floresta
o rio
e o campo em ruinas, a cavalo

Que caminha do outro lado da rua
em passos largos
rápidos
usando aquele casaco cinza, com as mãos no bolso
e um olhar que não se deixa perseguir

Me leve com você, gatinho
para longe desse lugar
Pode ser em sua motocicleta
bicicleta
borboleta
qualquer coisa que tenha asas e saiba voar
que reserve um lugar para dois
que seja grandioso e singular
como os seus sorrisos que
brotaram em meus jardins
e se transformaram nas margaridas de todas as manhãs


















[junior ferreira]













domingo, 14 de abril de 2013

[...]
















Encontro-me nessa necessidade de evoluir
de sorrir quando sou vertigem
tornar-se flor quando apenas ser semente basta

Ver-me singular, quando sou apenas barulhos




















[junior ferreira]

quarta-feira, 3 de abril de 2013

[...]





















Nao há memória na cidade, nao mais

A rua, na qual antes eu jogava bola
levantava poeira e gritava feito maluco
Hoje é asfalto
Ninguém mais pega bicho-de-pé - ou nem sabe o que é isso
E pensar que no quintal - no qual eu roubava goiaba - hoje é concreto
reluto pelas outras coisas que se emolduraram no tempo
sem o respeito
pela arte, pela historia
 
A Matriz esta cercada de prédios
Os museus nao passam de poeira
Os vizinhos nao se cumprimentam mais
A ignorancia manda beijos e o por do sol se reflete nos bilhoes de prédios que se erguem pela cidade.






















[junior ferreira]

terça-feira, 2 de abril de 2013

[...]















Vou dizer o seu nome na escuridão
escrever durante horas as palavras pelas quais tanto procura

E se tatuar o Vento em minhas costas
verei suas rabiolas passarem em meu corpo
quando neste mesmo vento, empinar sua pipa
























[junior ferreira]

domingo, 24 de março de 2013

[...]



















Há vagas

Precisa-se de alguém que ame desesperadamente



























[junior ferreira]

quarta-feira, 20 de março de 2013

[...]


















Queríamos um final de semana
com direito a pipoca e algodão doce

Passar o dia na praça tocando violão
ou tomar um vinho na grama
trocando risadas e assuntos dos quais nos passam despercebidos pela semana

O que conseguimos, foi ver os fogos de artificio, de longe, de dentro do trem
Passavam as cores por entre os vidros, refletiam nos olhares
E a sensação de ver algo inusitado encher o céu noturno com inúmeras luzes
foi algo maior do que apenas uma sexta feira

















[junior ferreira]

sábado, 16 de março de 2013

[...]























Acordado entre quatro paredes imaginando o que aconteceria em um dia inteiro
Contando as palavras, retirando cada acento e corrigindo cada erro banal
Nao faria nada
Mas é por voce

Tudo em seu limite, clareia tudo ao redor - sem limites
Move cada paisagem, orienta o vento de acordo com o seu humor
Sente o pensamento expandir no cerebro e correr pela pele
Sente o que sinto, esta onde eu estou
Alguns chamam de pensamento equivocado, outros alma gemea
O que denomino carinho, as vezes se desloca no tempo, e se perde no mesmo
Preciso acreditar - mais
Encontrar aquilo que chamam de foco
Visualizar o que seria gostar mais de mim mesmo















[junior ferreira]


segunda-feira, 4 de março de 2013

[...]
















Não estava mesmo convicto ou vinha guardando pensamentos positivos sobre nós - talvez, na gaveta, o que eu guardara foram apenas aquelas cartas. O mesmo que arrebata a minha imensa surpresa e me faz refletir entre alguns bilhões e bilhões é aquela coisa que nos mostra o quanto a vida é mutável, seja na alma, seja a personalidade, ou o quanto estamos sujeitos a diversas mudanças. Não me interessa o que a vizinha acha do cabelo da outra vizinha, não me importa quantas galáxias há nesse universo, quantas estrelas estão morrendo neste momento, ou quantos satélites habitam naqueles planetas. O que queria saber é onde o amor termina - e se termina - onde a paixão começa, se é possível comprar pacotes de alegria ou respeito nos supermercados - assim como compramos cigarros ou vinho ou o que esteja a venda - se os arredores nos permitem ser gentis e se eles se permitem para o mesmo, quero saber até onde vai a nossa vida e se de lá voltaremos pra cá novamente, para amarmos, ou amarmos mais ou mesmo aprender a amar.






















[junior ferreira]

sábado, 2 de março de 2013

[...]

















Bendita foram as luzes que iluminaram o seu berço em seu nascimento
Benditas luzes que me iluminam
em detrimento da poeira
e de outras desilusões
lançadas aos meus olhos
durante o dia
ou mesmo na madrugada veloz





















[junior ferreira]

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

[...]




















E aquela vontade de voltar pra cama - após comer dois pedaços frios de pizza - e me enrolar em seus braços, me espreita pela madrugada afora, quando de fato voce se encontra longe dos meus lençóis.




















[junior ferreira]

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

[...]















Enquanto o dia se esvai entre cebolas
alho, salada
mushrooms
e uma pitada de sal
A voz de Djavan
espalha Açaí pela casa
entre bilhoes e bilhoes de sabores, os quais tornam
essa efemeridade ainda mais nostálgica





















[junior ferreira]

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

[...]















Não quero saber o que tem na torta de limão da minha avó
não quero aprofundar nos sorrisos que mascaram o azedo deste sabor
e enterram a leveza e o tom esverdeado numa só garfada

















[junior ferreira]