quarta-feira, 1 de outubro de 2014

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Não que eu não gostasse de você, não era isso. Você entendeu errado, garoto ou garota - como quiser entender. Resgatou outros sentimentos, pensando que não haveria nenhum para resgatar. Atribuiu adjetivos aos móveis do meu quarto e me abraçou de madrugada. Pela manhã fez meu café e se despediu com sorrisos múltiplos de alguém que me veria mais vezes ao dia, ou pelos amanhãs ou pelas próximas semanas e reencarnações suscetivas, imediatas e infindáveis. Me encarou como se quisesse me penetrar mais profundo e comeu da carne que tanto queria. Em Maio, começou a enviar suas cartas, em Agosto já estava determinado. No final de Setembro ocorreram tempestades, relâmpagos, rumorejos, resmungos e então se confundiu em sua própria cabeça. Eu, deste lado de cá, já não sabia mais o que era sentimento ou o que era invenção. As cartas perderam os motivos e minha cabeça embaralhou-se em diversos universos prolixos e sem luz. Me encontro sozinho, agora. O remorso bate na porta e as vezes digo que estou - mesmo não querendo dizer que entre. Rancoroso, em algumas manhãs ou partes do dia, o meu tom ao dizer boa tarde se manifesta com angustia e raiva. Tento entender o vazio como os poemas singulares que saem dos pulmões, fígado e vísceras inúteis. Prefiro pensar que tudo é uma questão de vento ou furacão nesse barquinho no qual navego lentamente a minha vida.
















[junior ferreira]

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