segunda-feira, 30 de junho de 2014

[...]













As formigas saíram após o toque de recolher
após o pó de café espalhar-se sobre o chão
e o açúcar grudar na sola do meu sapato
As formigas perderam o rumo de casa
sem se despedir dos irmãos
Mãe
Pai

As formigas esqueceram-se na estrada
e foram embora pelo derradeiro caminho
sem olhar pra trás












[junior ferreira]

sábado, 21 de junho de 2014

[...]














Não acreditava que o som das minhas tardes
perderiam a frequência
até ver as cores se desbotarem
dentro do cesto de frutas
no qual o mamão apodrece lentamente
e as maçãs tornam-se tomates

Desconsiderava
que a minha tonalidade mudaria de verde para branco
até me tornar violeta
rosa
vermelho
roxo
lilás
borboleta










[junior ferreira]

quinta-feira, 19 de junho de 2014

[...]












Tomamos um café
para nos livrar daquele cansaço
dos corpos grudados na ultima noite
daquele suor que não seca

Tomamos um café numa avenida
um de frente para o outro
e mesmo assim
seus olhos não perceberam que eu estava lá











[junior ferreira]

domingo, 8 de junho de 2014

[...]












Queria que fossem palpáveis
como as plantas da minha janela
e quando ínfimos
desejados da mesma forma
com a mesma vontade
Queria que os seus sentimentos
fossem maiores
fossem iguais
aquilo que sempre sonhamos na vida















[junior ferreira]

terça-feira, 3 de junho de 2014

[...]




















Desde fevereiro
planto flores em seu jardim
Todas elas, contudo, crescem
somente sob os meus olhares
e o meu jeito de regar

Suas camisas azuis
voam do varal
e vertiginosamente
caem
sobre o meu jardim
amassando as margaridas
lírios
beija-flores
borboletas
pés-de-moleque

Planto flores
desde fevereiro
em seu quintal
Contudo, somente as minhas
sementes crescem
e se espalham
no jardim
o qual
inventara
para
mim
     mesmo














[junior ferreira]

segunda-feira, 2 de junho de 2014

[...]














Acordamos numa manhã
sem vento
Seu cheiro, de quem dormira por oito horas seguidas
me abraçava naquele calor
matinal
De alguma forma
o suor do seu corpo
sua transpiração
me fizeram perceber
um odor diferente
daquilo que sentia quando éramos dois
A beleza do seus suspiros
e do seu jeito de abrir os olhos
acabaram-se naquela mesma
manhã
sem pausa
               e sem conversa
Os trovões da última noite
permaneceram sob os lençóis
e se romperam em silêncio
libertando apenas o som
de nossas respirações
pelo resto do
                   dia

















[junior ferreira]

domingo, 1 de junho de 2014

[...]

















Você, vem de longe
lá do Maranhão
e lança em minha manhã
a verdade sobre as cores
mais precisamente sobre a minha cor favorita, azul

Quando o azul não desbotava
eu era outro
vivia por qualquer sorriso
sentia qualquer calafrio freneticamente percorrer o meu corpo

Fui outro, quando o azul era azul
e as outras cores, ínfimas
Sou outro quando enxergo outras cores
do mesmo espectro
ou mesma sintonia

Quando fui outro
o azul de outrem
era iluminado
e as minhas manhãs
mais floridas















[junior ferreira]