[...]
Estou de frente para o inesperado
contemplando o silêncio de tudo isso. Veja por si, o silêncio. Escute só [...]
As músicas que ele escolheu para tocar naquele dia dentro do carro, ainda estão em mim. Lembro do seu jeito macio indo diminuir o volume do som do carro, perguntando se estava numa altura adequada. Estava tudo ótimo. Era tudo tão limpo, sentia até medo de ir para o lado e manchar alguma parte interna do veículo. Sempre que ele dirigia, parecia atento, parecia distante. Eu viajava no azul dos olhos dele, naquela claridade do dia de algo que, hoje, é inalcançado. Os dias foram velozes, dentro de muitos outros dias ainda velozes. Eu lembro de algumas vezes fechar os olhos e tentar congelar o tempo, mas não conseguia, era demais pra mim. Caetano não canta Leãozinho da mesma forma. Ainda fecho os olhos ao lembrar da minha surpresa ao vê-lo colocar a musica que eu mais gostava em nosso primeiro encontro. Por mais que seja apenas uma onda eletromagnética em meu corpo, é uma memória que me da forças, não quero perde-la. E o que dizer dessas ondas quando não as alcanço fisicamente? Nada, não tem nada para dizer, apenas sentir.
Vou senti-lo.
Em meu peito. Em minha voz.
Em silêncio.
[junior ferreira]