Tenho em mente de que quando chegar naquele estado de caveira não mesmo saberei interpretar meu desespero ou mesmo adaptar-me. Integrado ao estado de verdura encontrarei-me como a estante prostrada ao lado da porta, com os sentidos congelados pela força da madeira. Os sorrisos, agora empoeirados juntos aos livros e a bagunça das prateleiras, misturam-se ao humor da sala, que quando viva exalava o mesmo sentimento.]
terça-feira, 29 de junho de 2010
domingo, 27 de junho de 2010
[Há menos de mim em mim mesmo.
Não sei traduzir essas palavras de outro modo.
Neste momento, saber me auto-interpretar é uma arquitetura ainda trabalhosa.]
Antes de chegar em casa, subi dois morros mais longos do que os de costume. Duas mulheres passaram por mim, uma delas encarou-me como se me conhecesse, a outra não parava de falar. Tenho certeza de que não conhecia nenhuma delas, mas uma sensação de dúvida me perseguiu até o momento em que as ultrapassei. Desviei-me de ambas e subi o segundo morro. Neste não havia ninguém, só mesmo eu, o chão e os meus cabelos. Minhas unhas e mãos já estavam em estado de anestesia, o frio almejava-me a cada passo.
Em casa, não encontrei nada limpo nem na sala, nem na estante, nem na cozinha. Nao senti vontade de dormir. Trouxe o Quintana na mochila, resolvi ler e esperar o cansaço vencer-me.
Quintana não me deixa cansado. Subir o morro não me deixa cansado. As mulheres sim deixam-me exausto , olham-me, sorriem e não falam nada.
Esse efêmero olhar ficou em mim até o momento de dormir. A essência da curiosidade tomou-me por completo e percebi que o anjo de porcelana, parado na estante, encarava-me com um olhar dúbio. O relógio da parede lançou-me um olhar, o retrato, a estante e os livros espalhados sobre a mesa, lançaram-me olhares, como se fosse pra eu não estar ali, lendo Quintana. E todo o resto da casa conseguiu me cansar. Tantos olhares, espamos e inquietações, tudo ao mesmo instante. Enquanto tudo me observava, fechei Quintana na página 37, desliguei as luzes e pela sala mesmo resolvi dormir. Nem o anjo de porcelana e nem o relógio deram-me boa noite.
Não sei traduzir essas palavras de outro modo.
Neste momento, saber me auto-interpretar é uma arquitetura ainda trabalhosa.]
Antes de chegar em casa, subi dois morros mais longos do que os de costume. Duas mulheres passaram por mim, uma delas encarou-me como se me conhecesse, a outra não parava de falar. Tenho certeza de que não conhecia nenhuma delas, mas uma sensação de dúvida me perseguiu até o momento em que as ultrapassei. Desviei-me de ambas e subi o segundo morro. Neste não havia ninguém, só mesmo eu, o chão e os meus cabelos. Minhas unhas e mãos já estavam em estado de anestesia, o frio almejava-me a cada passo.
Em casa, não encontrei nada limpo nem na sala, nem na estante, nem na cozinha. Nao senti vontade de dormir. Trouxe o Quintana na mochila, resolvi ler e esperar o cansaço vencer-me.
Quintana não me deixa cansado. Subir o morro não me deixa cansado. As mulheres sim deixam-me exausto , olham-me, sorriem e não falam nada.
Esse efêmero olhar ficou em mim até o momento de dormir. A essência da curiosidade tomou-me por completo e percebi que o anjo de porcelana, parado na estante, encarava-me com um olhar dúbio. O relógio da parede lançou-me um olhar, o retrato, a estante e os livros espalhados sobre a mesa, lançaram-me olhares, como se fosse pra eu não estar ali, lendo Quintana. E todo o resto da casa conseguiu me cansar. Tantos olhares, espamos e inquietações, tudo ao mesmo instante. Enquanto tudo me observava, fechei Quintana na página 37, desliguei as luzes e pela sala mesmo resolvi dormir. Nem o anjo de porcelana e nem o relógio deram-me boa noite.
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