segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

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Os barulhos nunca nos abandona, nem mesmo no silêncio. Tudo o que diz jamais nos abandonar, é mentira. Começaram a gritar na rua por volta das dez da noite. Pela madruga fingiram silêncio, pela manhã eu ouvi malas sendo fechadas, portas batendo, lágrimas de metal fundido chocarem no chão. Não ouvi as palavras sendo pronunciadas com clareza, mas sei que disseram adeus como todas as manhãs efêmeras daquele mês de fevereiro. Manhãs que jamais se repetem e que hoje são somente resmungos.
Nosso amor é líquido, quaisquer resquícios de sentimentos são líquidos. Assumem formas, volumes variados, preenchem lacunas ocas, espaços vazios de forma inequívoca. Ocupam o ar dos pulmões, expulsam o escuro do coração, esculpem vísceras imensas e cheias de remorso. A saudade se liquefaz, torna-se grande demais depois do vazio de fevereiro. Espero, sinceramente, que toda essa sabedoria de aranha possa faze-lo levitar algum dia. Espero que ao procurar  por espaços para preencher com sua alma, sinta na mesma frequência o abandono dos sentimentos verdadeiros, dos arrependimentos, sinta os ecos dos barulhos da sua ausência e as lamúrias das perguntas-não-respondidas saindo do poço profundo no qual me largara. Espero que possa sentir o próprio fel arder os lábios ao se tornar o mesmo pó no qual me tornei dentro dessa tempestade que há de ser veloz.

 I would like to show you something, baby, but I'll stay here inside myself with my hurricanes.







[junior ferreira]

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